O mercado de tecnologia de informação vive de ondas. Algumas até fazem algum sentido, mas vamos ser francos, a maioria delas serve apenas para vender produtos e serviços para os menos informados.
Uma das ondas atuais é a Inteligência Artificial. Já na faculdade brincávamos, “Se fosse realmente Inteligência não seria Artificial”. Agora é moda dizer que qualquer coisa pode ser substituída pela máquina. A coisa não é bem assim pois os algoritmos mudaram muito pouco nos últimos anos e que de fato, atualmente é mais barato processar grandes volumes de dados. Resumindo, um grande lobby para se vender IA-as-a-Service.
Posso garantir que os trabalhos chatos, repetitivos e sem criatividade alguma terão sucesso garantido nestas aplicações. Outro tipo de trabalho que pode ser substituído são analises em grandes volumes de dados a procura de padrões. E isso é ótimo para nossa sociedade.
Stephen Hawking disse: “Todos os aspectos das nossas vidas serão transformados [pela IA]”, e isso pode ser “o maior evento na história da nossa civilização”. Essa afirmação é muito verdadeira, mas algumas interpretações levam o leitor a achar que a IA substituirá todos os aspectos de nossa vida, e isso Stephen Hawking não disse.
Note, um simples chatbot que consiga fazer bem 3 a 5 níveis de atendimento (algo com que ainda não me deparei) já “transforma um aspecto de sua vida” e isso está longe de algo que realmente impressione.
Em meus estudos me deparei com alguns textos defendendo o uso de IA para processos de coaching, inclusive afirmando que o futuro do coaching não existira sem uma IA. Os principais argumentos expostos seriam:
- O processo tradicional de coaching não consegue identificar todos os elementos necessários para tomadas de decisão
- O risco de um programa de coaching para executivos “não-convencionais” é tentar “normaliza-los”
Sobre o item “1”, deve-se perceber que um bom processo de coaching vai elevar o nível de consciência do coachee e faze-lo ter acesso a partes do cérebro que melhorem suas decisões, são os famosos “insight” ou momentos “eureca”. Em um ambiente corporativo, estes processos de decisão acontecem o tempo todo em vários níveis. Eles não multidisciplinares e levam em consideração histórias de vida, experiencias corporativas, emoções e não apenas dados planilhados e ações repetitivas.
O item “2” não leva em consideração que o processo de coaching é individual. Ele nunca traz consigo nenhum tipo de normalização pois ele é um processo para o aumento da autoconsciência. Ao adquirir a mesma o coachee melhora o processo de decisão. No mundo corporativo a diversidade de ambientes e pessoas é o que faz o processo de decisão ser rico. Então, normalizar ou padronizar o processo de decisão é uma perda de eficiência.
O processo de coaching é um processo humano e sua eficiência ocorre justamente por este motivo. Tudo no processo de coaching visa despertar a melhor pessoa que tem dentro de você e não acredito que uma máquina seja capaz de tal façanha.
Como na interpretação equivocada da frase de Hawking, sinto dizer que a IA não irá substituir o coaching mas pode transformá-lo. Exercícios, análises e outras coisas chatas e monótonas podem ser substituídas pela IA como ferramenta de apoio, mas nunca o processo como um todo.
Já no processo de decisão a IA pode ser uma grande apoiadora para uma mente humana que seja consciente.